20 janeiro 2016

Voluntariado fora e dentro de portas

No Bairro Padre Cruz, em Carnide, a antiga escola do rio Tejo dá agora lugar a um edifício renovado, ladeado pelas típicas casas de lusalite, onde se situa a Associação Spin para o Intercâmbio, Formação e Cooperação entre os Povos. A organização sem fins lucrativos, que tem como principal objetivo a realização de programas de mobilidade internacional para jovens, é responsável por adicionar 15 novos moradores estrangeiros, durante Novembro, ao maior bairro social da Pensínsula Ibérica.

A causa é simples. Deve-se ao “CapitALL – Connecting Capitals, Building Europe”, o projeto de voluntariado europeu, que liga duas cidades do Velho Continente no âmbito das suas comemorações de Cidades Europeias – Lisboa e Cluj-Napoca, na Roménia. A cidade portuguesa comemora este ano ter sido seleccionada Capital Europeia do Voluntariado e Cluj-Napoca comemora o título de Capital Europeia da Juventude 2015.


“Quando vou à feira da Ladra já sei dizer: muito caro! Pode ser mais barato?”, quem o diz é a voluntária romena Natalia, de 23 anos. Apesar da curta estadia por Lisboa, a jovem já consegue formular diversas palavras em português, mas confessa, entre risos, que quando pede uma bica ou um galão, o sotaque rapidamente a denuncia. Confessa-se uma apaixonada por Portugal, e não quis deixar de aproveitar esta oportunidade de viver na grande metrópole do país.
Os 2800 quilómetros que separam os dois países não foram impedimento para a realização de um projeto de voluntariado bilateral. Portugal, através da Spin, recebeu 15 jovens romenos entre os dias 5 de Novembro e 7 de Dezembro. Por sua vez, a Spin enviou 15 jovens para Cluj-Napoca, que de 19 de Outubro a 19 de Novembro, realizaram de igual forma o seu trabalho internacional.
Vlad, de 25 anos, não esconde o entusiasmo por estar a viver em Lisboa. Quando chegou à capital a primeira noite foi passada no Bairro Alto, onde o jovem pôde rever velhos amigos. “Há uns anos fiz uma road-trip e vim a Portugal, mas só conheci uma certa faceta. Agora, estou certo, de que fazer voluntariado vai mostrar-me uma nova perspectiva do país”, explica o jovem.
Durante o mês, Vlad e os companheiros levaram a cabo diversas atividades de voluntariado em várias associações e organizações por Lisboa, que incluíram o Parque Florestal de Monsanto, Casa dos Animais de Lisboa, Associação entrAjuda, Associação Conversa Amiga, e workshops sobre calçada portuguesa. O projeto incluiu ainda uma vertente mais lúdica que deu a conhecer zonas turísticas da cidade como o Bairro Alto, Galeria de Arte Urbana ou o Centro Comercial Colombo.


Paralelamente, outra vertente da iniciativa consistiu no desenvolvimento de projetos finais, que incluem três grupos que trabalharam, através de diversos métodos, como vox pop, vídeos de promoção e teatro forúm, a temática do voluntariado.
Graziano Tullio, monitor e formador do grupo romeno, coordena todas as atividades. Para o italiano de 36 anos, esta dupla valência do projeto é a sua maior mais-valia. Por um lado, os jovens dão o seu contributo pessoal pelas várias associações, ao mesmo tempo que desenvolvem projetos finais. Segundo o monitor, “é de extrema importância porque permite aos jovens refletirem sobre a experiência que estão a viver.”
Esta é, também, para a jovem voluntária Natalia a maior vantagem do projeto. “Eu já tinha feito voluntariado noutros moldes, mas não tinha definido na minha cabeça um conceito específico sobre ele. Então esta é uma forma para o descobrir e finalmente defeni-lo à luz da minha própria experiência, sem clichés.”
Para a jovem, o projeto CapitALL não representou a sua primeira vinda a Portugal, porém reconhece que só conhecia as belezas naturais e a beleza de Lisboa, mas não a vida social, que agora pôde conhecer através do contacto com as várias associações. Questionada sobre as coisas de que mais gosta na capital, a resposta é imperativa: “São as pessoas, muito calorosas e simpáticas.”
A Associação Spin, escolhida pela Câmara Municipal de Lisboa para liderar a iniciativa, tem como objectivos fundamentais o fomento do diálogo intercultural e da cooperação entre os povos, a defesa dos direitos humanos e da igualdade de oportunidades, a promoção da solidariedade e da inclusão social, o desenvolvimento de uma cidadania activa e participativa e o estímulo à formação e aprendizagem ao longo da vida.


Do bairro para o Mundo

Hospedados no Spin Hostel, paralelo à associação que lhe deu nome, durante a estadia na capital portuguesa, os jovens emergiram na realidade daquele que é o maior bairro social da Península Ibérica. A ação da SPIN ajuda a tornar o bairro mais multicultural e a combater ideias errantes e pré-concebidas, sobretudo entre os novos “moradores estrangeiros”. Ideia essa partilhada por Fábio Sousa, presidente da Junta de Freguesia de Carnide, que caracteriza a ação da associação como de uma “importância ímpar”, e explica que permite trazer outras realidades para dentro do bairro.
Graziano Tullio acrescenta: “Acabámos por ter pessoas de vários sítios da Europa e do mundo no bairro, e isso cria uma dinâmica engraçada.” O monitor, que se revê como freelancer, por trabalhar com várias associações, acredita que estes jovens fazem parte do processo de transformação do bairro, e que todas estas atividades culturais que se implementaram ajudaram a valorizá-lo, e a derrotar o apelido de gueto anteriormente atribuído.


O jovem romeno Bogdan, de 26 anos, caracteriza o projeto CapitALL como interessante. “Promovemos esta parte da cidade [Bairro Padre Cruz] porque muitas vezes as pessoas a viver em Lisboa não a conhecem, e as que conhecem dizem que é perigosa, mas não me senti inseguro aqui”. Bogdan refere que há ainda um preconceito associado ao bairro, manifestado em pequenos detalhes, e confidencia um episódio. “A pizza não é entregue no bairro, disseram-nos que só o fariam na estação da polícia de lá. São detalhes que nos fazem rir”, brinca o jovem.
Por isso, uma das ações de voluntariado do projeto CapitALL deu-se no Bairro Padre Cruz, na zona das construções de alvenaria, constituída por casas com mais de 50 e 60 anos, muito degradadas e ainda com telhados de amianto.“As casas precisam de uma reconversão urgente e enquanto tal não é possivel, rua a rua vai se requalificando. E, assim, com a ajuda dos voluntários, podemos humanizar o que existe”, explica Fábio Sousa.
Entre carros de cantoneiro, pás, sacholas, baldes e luvas, a ação envolveu os voluntários romenos e portugueses do projeto, além de colaboradores das associações locais e a própria comunidade do bairro, e consistiu numa campanha de limpeza e reabilitação de quintais devolutos para serem transformados em áreas de utilização comunitária, tais como hortas, jardins, espaços de lazer e estendais comunitários.
Alexandra Barbosa, Inês Marques, Inês Brito e Joana Matos integraram o grupo de voluntários portugueses na Roménia que se juntaram à atividade de limpeza no Bairro Padre Cruz. Para as quatro jovens, do projeto ficou a amizade, memórias de uma experiência internacional e o “bichinho” de fazer voluntariado. Para estas, a aventura europeia foi numa experiência positiva, e destacam como aspeto mais marcante do projeto, a criação e produção de um evento, de nome “A casa portuguesa”.


“O evento foi um sucesso”, frisa Alexandra Barbosa, licenciada na área das Relações Internacionais, de 26 anos. Realizado no centro da cidade, no Central Park, o evento incluiu comida portuguesa, música ambiente tradicional, uma galeria de arte com as obras mais marcantes da cultura, puzzles e jogos interativos, além de vídeos sobre Portugal.
Para as duas Inês, ambas recém-licenciadas em Gestão, a experiência foi uma aprendizagem fora do contexto académico. “Apesar de não ter muito a ver com a minha área de formação, enquanto pessoa e mesmo a nível curricular, esta aventura enriqueceu-me muito”, salienta Inês Marques.
Joana Matos, mestre em Relações Internacionais, de 28 anos, revela que apesar das diferenças entre os dois países europeus sentiu que há valores partilhados. “O povo não é tao quente como o português, não são tao abertos e não há o tal sorriso”, explica. É precisamente isso que o voluntário Bougdan encontra no povo português. “Aqui as pessoas são calorosas e têm um sorriso amigável na cara”, elogia o jovem.

Voluntariado na Casa dos Animais

Na lista das organizações pelas quais os voluntários romenos passaram está a Casa dos Animais de Lisboa. Inaugurada em 2014 é o único canil/gatil municipal da cidade, e alberga atualmente cerca de 140 cães e 40 gatos. Numa tarde fria de Outono, a deslocação a Monsanto ficou a cargo de três pessoas - Alexandra, Geta e Ionut, para quem o frio de Lisboa, não é nada comparado ao da Roménia.
Para Geta, esta foi a sua atividade favorita. “Eu corria com os cães por estarem tão contentes por saírem à solta.” A jovem de 23 anos já tinha estado em Portugal envolvida noutro projeto de curta duração. “Eu só tinha a imagem turística, mas Portugal era um destino ao qual eu gostava de voltar e de viver. Por isso, um mês a viver em Lisboa era a oportunidade perfeita para mim”, revela a voluntária.

Alexandra, de 20 anos, nunca tinha estado num canil, e revela que quando voltar para a Roménia quer envolver-se com a causa animal. Para a voluntária, a oportunidade de explorar a cultura de um novo país foi irresistível, e partiu para Portugal sem saber nada sobre o país, mas pronta a aprender tudo.
Elizabete, que coordena 52 pessoas no programa de voluntariado da Casa dos Animais de Lisboa, explica que para se ser voluntário é preciso acima de tudo gostar de animais. “É o único requisito”, frisa a coordenadora. Por lá, os voluntários fazem a sociabilização dos animais e tudo o que é a garantia da melhoria do bem-estar dos bichos.
A equipa de Beta, como é carinhosamente tratada, inclui quatro jovens com necessidades educativas especiais. Rodrigo é um destes voluntários. Acompanhado por Igor Santos, voluntário há pelo menos um ano, os dois auxiliaram os jovens romenos.
Ao longo da tarde, foram passeados quase 30 cães de diferentes portes e raças. Ionut desconhece o motivo pelo qual os cães não têm nome. “Acho que é para não nos afeiçoarmos tanto, porque não é difícil criar este tipo de ligação”, explica-lhe Igor.

Sofia Barreira Pavão

08 janeiro 2016

Intercâmbio em Kobuleti: o testemunho do Tiago

Esta foi a minha primeira experiência neste tipo de programas e não podia estar mais satisfeito com o resultado.

Esta experiência enriqueceu-me a nível cultural, nunca tinha estado/conhecido nenhum cidadão dos paises envolvidos neste projecto (Portugal, Turquia, Croácia, Polónia, Arménia e Geórgia). Tive oportunidade de conhecer costumes, tradições e uma diversidade incrível de modos de vida, assim como de expor, explicar e demonstrar costumes da vida portuguesa.

O objectivo principal deste YE era ser tolerante e acho que o atingimos com sucesso. Tínhamos culturas tão distintas umas das outras que pensei por momentos ser impossível criar laços, destruir barreiras ou erradicar estereótipos mas estava enganado.

Todos nos aceitámos mutuamente e com a noção que apesar de religião, costumes ou tradições, somos todos seres humanos que partilhamos uma casa em comum, o planeta Terra. Conheci pessoas fantásticas a quem desejo tudo de bom e que consigam cumprir os seus objectivos de vida e acima de tudo, serem felizes tal e qual como são. 

Despertou em mim o desejo de neste ano 2016 aprender a falar uma nova língua, e de me cultivar ainda mais. O conhecimento não tem fim.


Posso dizer que tinha a ideia pré concebida de que neste tipo de programas criamos laços momentâneos ou amizades com a duração do projecto. Contra a minha ideia e expectativas iniciais, encontrei pessoas (de culturas diferentes, de paises diferentes e com costumes diferentes dos meus) com quem me identifiquei muito, criamos amizades verdadeiras e inclusive vamos reunir-nos este ano novamente! :)

Foi sem duvida uma experiência maravilhosa que me proporcionou não só tudo o que mencionei em cima, mas também conhecer um novo pais. 

Quero repetir, quero voltar para Kobuleti! 

Tiago